segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Ensaio

Estou ensaiando uma nova isabela / só que na estreia - por gentileza - não quero plateia

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Cuspindo marimbondos


Cuspindo marimbondos, engolindo sapos, matando dois coelhos com uma cajadada só. Todas essas expressões têm um fator em comum: utilizam um animal para explicar sentimentos que nós humanos vivemos.

Não sei, nem o Google soube me dizer, o porquê de cuspir marimbondos. Mas, uma ferroada de marimbondo nas mãos ou na bochecha (já tive ambas as experiências para comprovar) já é de bom tamanho para ficar com raiva, imagine um marimbondo mordendo a sua garganta?  Ou qualquer parte interna de nosso corpo? Desolador.

Engolir sapos. Bem, engolimos tanta coisa no dia a dia, que me parecem, às vezes, mais intragáveis que um sapo atravessado na garganta, que esta expressão também, mesmo sem saber a origem, faz todo o sentido. Palavras, desaforos, atitudes imbecis, suas e dos outros, sentimentos tortos, sentimentos claros, mas não praticados, realizados, etc. e tal.

Matar dois coelhos com uma só cajadada, que hilariamente já trocaram por aí por caixa d`água, não é fácil, mas também não é impossível. São como aqueles dias de sorte em que você encontra um velho amigo por acaso no meio da rua e ainda acha, horas depois, uma nota de R$50 tilintando na sua frente na calçada, sem vestígio de nenhum dono a quem você pudesse devolvê-la.  

Assim são as expressões dando um colorido ao nosso vocabulário. Que herméticas e sem graça alguma seriam as nossas vidas se falássemos apenas o que consta nos dicionários, não é mesmo? Viva a criatividade popular.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Lista (in progress) dos pequenos prazeres III


Quando você reúne num pacote de fim de semana entrevistar, sem estar previamente marcado, Caetano; encontrar queridos que moram em sua cidade e você não vê há tempos; reencontrar queridos que vêm de longe, seja numa ponte-aérea, seja atravessando a ponte; visitar um lugar que você passa em frente todos os dias, mas não pode parar e entrar; ver e ouvir Marisa Monte ao vivo.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Lista (in progress) dos pequenos prazeres


Todas as pessoas que escrevem fazem uma lista. Pode ser uma lista de coisas banais, uma lista de músicas favoritas, de filmes para assistir antes de morrer, ou até de coisas que alguém mais odeia. Pois bem. Farei uma lista meio Amélie Poulain, de petit plaisirs. A vantagem é que o blog segue a linha in progress, não preciso ficar queimando a mufa e fazer uma lista de uma só vez. Então lá vai o primeiro item. Quando outro pousar em minha cabeça, escrevo

- Comprar um pão sobressalente ao número necessário e ir comendo no caminho até em casa só porque ele acabou de ser feito e está quente e irresistível na sua frente.

Da série: alguém fez por mim

Eu me daria ao trabalho de reproduzir aqui, não tivesse o professor Adilson, dos idos tempos de Técnicas de Reportagem,  feito antes de mim em seu blog.

Então vejam lá: http://blogdoprofadilson.blogspot.com.br/2012/09/errei-sim.html

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Óleo alheio



Por falta de tempo de postar meu óleo, posto o de Arthur Dapieve, em carta a Joaquim Ferreira dos Santos nesta sexta-feira (14) no Segundo Caderno do jornal O Globo. Segue o trecho:

(...) Em texto mais antigo, você se queixou que, com raras exceções, nossas cantoras não ateiam fogo às vestes quando são abandonadas pelos amantes, não se descabelam, não sofrem ao microfone. Elas não querem correr riscos, querem ser cool. Amy Winehouse sabia que onde há dor não há ganho. Com homens e bandas, aqui e alhures, não é diferente. A impressão é a de que a sociedade ocidental hoje tem imensa dificuldade de se relacionar com as sombras. Entrou numa viagem sem volta de Prozac. Claro, a morte está aí, mas a turma olha pro outro lado e pede pra não beijar na boca.
(Paradoxo para a hora da insônia: a nossa sociedade é ávida por se expor na frivolidade das redes sociais e se borra de borrar a maquiagem na vida real). (...)

Na ocasião, Dapieve respondia a Joaquim sobre uma proposta feito pelo colunista na segunda-feira (10) a respeito de uma lista de 1001 músicas para ouvir antes de morrer, que o colunista do início da semana carinhosamente apelidou de “músicas para espantar o bode”. Dapieve responde com título “Para amarrar o bode”. No caso, ele defende as canções melancólicas. Com o bode de “Dapi”, como Joaquim gosta de chamá-lo, endosso a lista com Amy numa versão cubana com Rhythms Del Mundo (porque os latinos gostam de um bode).


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Amy


A primeira vez que ouvi falar em Amy Winehouse foi numa noite descontraída na Lapa, quando a amiga de uma amiga soltou: “Nossa, você é a cara da Amy”. Eu fiz uma cara de que não entendi, enquanto a minha amiga ria sem parar. Ela tinha bebido, é verdade. E depois da efusividade, tratou de me explicar que se tratava de uma cantora inglesa que tinha problemas com drogas. Não tardou muito para eu ouvir Rehab, sucesso nas rádios. Achei divertido, curti o timbre de voz achei que era uma nova cantora com senso de humor e ponto. Isso foi até eu ouvir Back to Black, segundo álbum da cantora. A sua voz incrível atrelada ao jazz e letras melancólicas me pegaram.

Ouvi e ouço até hoje (com menos frequência, admito) aquele disco como poucos. As piadas com Amy, sempre flagrada em situações embaraçosas com álcool e drogas, eram crescentes. Assim como o número de pessoas que falavam ‘sabe aquela cantora? você se parece com ela’. Não fui ao show de Amy no Rio por pura preguiça e pão-durismo. Primeiro de ir até o HSBC Arena (nunca vou a shows lá, aliás acho que só fui na casa a trabalho) e depois por achar o ingresso, na época, caro.

Lembro que algumas pessoas brincaram “olha, é a última oportunidade, daqui a pouco ela morre”. Ri da piada grotesca e não levei a sério. E perdi. Aquela era a sua primeira e última turnê do Brasil e um dos últimos shows antes de morrer.

Sua história, nos seus curtos 27 anos, é intensa. O livro Amy Winehouse, Minha Filha, escrito por Mitch Winehouse, pai da cantora, inicia com uma tentativa dele em contar o quanto a sua filha foi amada e bem criada por ele e pela mãe dela, Janis. Parece uma forma de se desculpar por não ter conseguido evitar que sua filha tivesse morrido, mesmo depois de brigar com Deus e o mundo para livrá-la do vício em heroína (que venceu em 2008) e depois a luta contra o álcool (Amy vinha tendo progressos e nos dias que antecederam sua morte passava bem, tendo crises de abstinência constantes, mas relutando em não beber).

É triste ver como o seu processo criativo foi afetado, mas também é nítida a relação direta do uso de álcool/drogas com a relação com seu ex-marido Blake. Talvez essas sejam informações velhas para quem acompanhou a história da cantora. O mais interessante de tudo é ver o outro lado, os bastidores, de como cada coisa era publicada. E o pai dela, quase enlouquecendo, tinha que se virar para checar se era verdade ou não. Dá para notar as invencionices da imprensa, o jogo sujo de venda de matérias e a quantidade de pessoas que tiravam sua casquinha do sofrimento de Amy.

Também vale ver como ela era doce e tinha um humor inteligente e perspicaz. Acredito que toda biografia vem comprometida pelo afeto que o autor/biógrafo tem por determinado artista ou biografado. É evidente que um livro escrito pelo pai é, no mínimo, digno de gerar dúvidas. Poderia ser chapa branca ou melodramático demais. Não é o caso. Mitch procura sempre indicar como checou os fatos e os relata sem piedade, quando são verdadeiros, e os desmente quando sua apuração assim demonstrou. Posso estar enganada, mas me parece ser um relato bem honesto, o que torna o livro ainda mais interessante.

Guerra fria

Embora este blog tenha, em sua maioria, posts escritos, imagens são bem-vindas.
Mesmo com a falta de técnica na foto, eis aí uma imagem que como diz o outro, diz mais que mil palavras.
Feira de Artes de Buenos Aires, maio de 2012.







quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Minha paixão por Nelson


Reacionário, polêmico, jornalista, cronista, dramaturgo, homem com frases de impacto, escritor, tricolor, pernambucano. São muitos os adjetivos atribuídos àquele que neste mês ocupa os cadernos de cultura dos jornais de todo o país, os programas de TV especiais e homenagens de toda sorte, seja com sessões de teatro ou cinema. Nelson Rodrigues, o anjo pornográfico, como foi denominado certa vez, é amado e odiado. Não importa. Desperta sentimentos intensos em quem lê suas declarações.

Não conheci Nelson, nem poderia conhecê-lo. Mas ainda assim me assusto com a força que o seu texto tem de materializá-lo em nossa frente. Tenho sempre a impressão de que ele está ali, soprando no meu ouvido aquelas palavras que saem da página e se transformam em som.

Lendo uma declaração do Drummond outro dia, eu me peguei pensando: caramba, como eu defendo o Nelson, levanto a sua bola sem nem ter sequer o encontrado uma vez na vida. E pelas declarações, ele parecia, em certos casos, um sujeito brigão, radicalmente passional. Talvez lendo o autor em vida não tivesse por ele tanta paixão.

Mas aí é que está o grande lance. Nelson era um apaixonado. Exaltava-se, falava e escrevia com veemência, beirava a infantilidade, certas vezes, quando levava adiante uma birra com um fulano ou um ciclano. O fato é que este pernambucano, que começou a ver as atrocidades da vida quando ainda jovem se tornou repórter de polícia, passou por poucas e boas - pegando empréstimo ao dito popular.

No trecho de “O ex-covarde”, um de seus textos mais bonitos, na minha opinião, ele resume sua bagagem:

“Tive medo, ou vários medos, e já não os tenho. Sofri muito na carne e na alma. Primeiro, foi em 1929, no dia seguinte ao Natal. Às duas horas da tarde, ou menos um pouco, vi meu irmão Roberto ser assassinado. Era um pintor de gênio, espécie de Rimbaud plástico, e de uma qualidade humana sem igual. Morreu errado ou, por outra, morreu porque era "filho de Mário Rodrigues". E, no velório, sempre que alguém vinha abraçar meu pai, meu pai soluçava: - "Essa bala era para mim." Um mês depois, meu pai morria de pura paixão. Mais alguns anos e meu irmão Joffre morre. Éramos unidos como dois gêmeos. Durante 15 dias, no Sanatório de Correias, ouvi a sua dispnéia. E minha irmã Dorinha. Sua agonia foi leve como a euforia de um anjo. E, depois, foi meu irmão Mário Filho. Eu dizia sempre: - "Ninguém no Brasil escreve como meu irmão Mário." Teve um enfarte fulminante. Bem sei que, hoje, o morto começa a ser esquecido no velório. Por desgraça minha, não sou assim. E, por fim, houve o desabamento de Laranjeiras. Morreu meu irmão Paulinho e, com ele, sua esposa Maria Natália, seus dois filhos, Ana Maria e Paulo Roberto, a sua sogra, D. Marina. Todos morreram, todos, até o último vestígio.

Falei do meu pai, dos meus irmãos e vou falar também de mim. Aos 51 anos, tive uma filhinha que, por vontade materna, chama-se Daniela. Nasceu linda. Dois meses depois, a avó teve uma intuição. Chamou o Dr. Sílvio Abreu Fialho. Este veio, fez todos os exames. Depois, desceu comigo. Conversamos na calçada do meu edifício. Ele foi muito delicado, teve muito tato. Mas disse tudo. Minha filha era cega.”


Eis que todas as dores transformaram o escritor, como ele mesmo definiu, em um ex-covarde. Não tinha medo de falar o que pensava e tinha, devido à sua experiência, a capacidade de enxergar a realidade.

Por isso, acredito que suas frases famosas como “toda unanimidade é burra”, “nem todas mulheres gostam de apanhar, só as normais; as neuróticas reagem” ou cada expressão fora de contexto que nos dê a impressão de que ele era polêmico ou machista - o que de fato poderia ser - são reducionistas. A genialidade de Nelson estava na sua capacidade de enxergar as minúcias que caracterizavam as pessoas, os tipos, e a sua facilidade em descrever com clareza e sonoridade as questões atemporais humanas retratadas em “A Vida Como Ela É”. Suas peças são apenas um recorte do seu texto. As suas crônicas demonstram o seu brilhantismo publicado a cada dia nos jornais.





segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Coletividade...

nada mais é que:
O meu interesse similar ao seu acoplados.

O resto é balela da opinião e intriga da oposição.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O melhor da vida é...


Quando você volta a ser sorridente e ouve música no horário que mais curte no volume em que deseja.


mistério

O som do meu violão
Incomoda o vizinho
Quando insisto em pensar
Que sou passarinho.
Blem, blem, blem,
Um desafino grave
No tom e no grau
E um assobio baixinho.
O mistério do som
É uma arte.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Câncer

Quando li Inveja – Mal Secreto, há alguns anos, aprendi com Zuenir Ventura que a palavra câncer significa aquilo que se esconde. Não me recordo se vem do latim, nem qual é a origem exata da palavra. Na memória ficou apenas a definição e o porquê do nome dado à doença homônima.

Lembrei disto ao ler um texto de Marília Pêra na Revista de O Globo de ontem. A atriz dissertava que, na sua opinião, um artista não pode se esconder do público. Para explicar o que dizia, ela narrou com uma humildade de poucos que naquela semana havia perdido a voz no meio de sua apresentação de Herivelto - Como Conheci, no qual interpreta canções de Herivelto Martins.

Ao expor sua falha, Maríla Pêra utilizou como exemplo os tenistas Roger Federer e Rafael Nadal. Ambos logo após um erro em determinada jogada são obrigados a encarar a posição de “o rei está nu” e deixar de lado qualquer vergonha para em seguida responder ou atacar na próxima jogada.

Em tempos de Facebook em que somos levados a nos expor mais, é necessário pensar na diferença entre o tipo de exposição utilizado na rede e o descrito pela atriz. O Facebook permite um filtro de postagens, deixando que você publique no seu perfil apenas aquela foto com um ângulo que lhe favorece ou restringindo um fulano de ver que você foi marcado em uma publicação, ou até mesmo aprovar ou recusar uma marcação. Até uma etiqueta foi criada para o uso da ferramenta.

Se o bom senso dos usuários da rede social precisa de cartilha, o texto de Marília Pêra vem na contramão da maquiagem e de uma imagem mais apreciável para não causar má impressão na futura empresa que quiser te contratar.

Quando ela fala em não se esconder, ela diz exatamente sobre a falha, sobre o erro – aquilo que nos desagrada e nos torna imperfeitos – que fere a nossa imagem. Justamente quando ela apresentou sua imperfeição, sua falha, sua humanidade à sua plateia, que negou a sua oferta de devolução dos ingressos e pediu que ela declamasse a música que a voz a impedia de cantar – aproximou-se de todos ali. Mostrou que para além de todo o mistério que envolve o artista, de toda a sua técnica e experiência que a tornam referência no que faz, existe ali alguém capaz de perder o agudo no meio do espetáculo.

Eu havia lido certa vez uma entrevista da atriz, a qual me causou antipatia por ela. Mas ao ler o seu texto de domingo, mudei de ideia. É mesmo uma pessoa admirável. Tenho enorme apreço por essas criaturas que não seguem a maré do pedestal. Meu medo é que nós nos tornemos seres plastificados cheios de filtros, tais quais as mulheres bonitas das capas de revistas com suas curvas photoshopadas inexistentes e surreais, que causam nas pessoas ideais de corpo absurdos. Com páginas no Facebook somente de pessoas felizes e perfeitas, que não bebem, não vão a festas, só têm bons sentimentos e desejam apenas coisas boas acho que será bastante lucrativo para as empresas farmacêuticas de antidepressivos.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Pessoa de sorte é aquela...

que no primeiro dia de plantão sozinha acontece uma desgraça.

(re)apaixonar-se

Acredito no fenômeno da re(paixão). Ele funciona mais ou menos assim: você ouve um disco uma vez, se apaixona por ele, ouve, ouve, ouve até furar. Anos depois você o reencontra. E se reapaixona. Pode ser assim com as pessoas. Ou com os livros. Ou até com uma outra faceta do objeto em questão. Há meses andava em minha cabeceira seu Drummond com sua "Poesia Errante". De dias em dias eu abria, lia um de seus poemas e sublinhava algo que me soasse bom naquele momento específico. Embaixo dele estava "Dossiê Drummond", do Geneton Moraes Neto, uma reportagem biográfica. Desde dezembro ele estava ali acumulando poeira, até que resolvi pegar. Eis que ocorreu o fenômeno da (re)paixão.
E cá estou vendo seu Drummond por outro ângulo. O daquele que responde.

Geneton pergunta: Qual é o grande medo de Carlos Drummond de Andrade aos oitenta e cinco anos?

Ele responde: Nenhum. Sinceramente, sou uma pessoa terrivelmente corajosa, porque não espero nada de coisa nenhuma. Não espero decepção nenhuma. O medo que tenho é de levar uma queda, me machucar, quebrar a cabeça, coisas assim, porque, na idade em que estou, a primeira coisa que acontece numa queda é a fratura do fêmur. Isso eu receio.

Geneton coloca no meio da resposta (como faz em quase todas as perguntas) um trecho de Drummond:

(...)
o medo dos grandes sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amareladas e medrosas.
("Congresso internacional do medo" - trecho)

E ele continua:

Mas medo, propriamente, não tenho, porque não tenho religião. Não tenho partido político. Vivo em paz com meu critério moral e minha consciência.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Quem dera ser um clips...

Nos momentos de espera eu brincava com aquelas pedras de ímã que abraça uma porção de clips de uma vez só. Eu os retirava da pedra circular num movimento quase repetitivo. Era prazeroso ver como eles eram facilmente atraídos pela força magnética de uma pedra inerte, que não esboçava nenhum esforço para trazê-los pra perto.

Às vezes me incomodava a empáfia daquela pedra. Nesse momento eu rapidamente trazia os clips para mais longe numa de dizer para a pedra, olha você não é tão poderosa assim. Mas logo eu me rendia e os deixava mais próximos dela, até que, amontoados, eles ficavam todos ali grudados sobre a pedra soberana.

Eram nas tardes de julho, como esta. Chuvosa e entediante no meio de um dia de férias escolares em que eu me cansava dos filmes na TV e descia até o escritório de contabilidade do meu pai para ver se via algum acontecimento. Hoje acho graça daqueles dias em que eu brincava com a pedra de ímã; e sobretudo a simbologia que ela traz sobre a atração.

Quando atraídos por algo ou alguém parecemos clips que se amontoam sobre a pedra soberana. Mas, às vezes, não. Será que o clips não tem medo da pedra? Eu perguntei um dia a alguém. Ah, ele não pensa, foi o que me responderam. Mas o medo não é irracional? Tá, pode ser. O medo pode ser emocional, mas o clips também não sente.

Ah, então o problema é esse? Pensarmos e sentirmos? Eu queria ser um clips.

domingo, 15 de julho de 2012

Inconsciente aristocrático

Não sou nem um pouco engajada em luta de classes. Acho isso uma bobagem, na verdade. Mas algo me incomoda profundamente na resistente "aristocracia".

Ora, seria uma ingenuidade da minha parte considerar aristocrata somente aquele que tem uma conta bancária recheada ou um nome de família imponente. Acho até que todos nós nascemos aristocratas, no sentido pejorativo da palavra.

Como? Explico.

Todos nós queremos que nossos desejos sejam atendidos pelo mundo. Caso a vida nos fizesse aristocrata de fato, gostaríamos que nos servissem, porque assim é mais cômodo e pronto.

Isso vem nas pequenas coisas. Vejam bem. Eu enfrentava uma espera longa e arrastada para tirar meu MTb (registro profissional de jornalista) no Ministério do Trabalho.

Ao meu lado, havia um rapaz de meia-idade com seu filho, que deveria ter uns quatro anos. O menino, impaciente com a espera, começou a criar problemas. Lá pelas tantas, inventou que queria sentar no meu lugar. Fosse em outro tempo, eu me levantaria e cederia.

Hoje, com a visão de que o mundo não está aí para atender os desejos de ninguém, fingi que não ouvi a manha dele com o pai.

E isso me remeteu a outra situação. Na época da Rio +20 ouvi a seguinte reclamação de uma pessoa adulta:

"Vou mandar uma nota para o Ancelmo. Acredita que eu entrei no táxi e o motorista me perguntou se eu ia para a Barra. Eu respondi que ia para Copacabana e ele disse que tudo bem. Depois me disse que se eu fosse para Barra ele não me levaria. Não passaria 3 horas em um táxi para ganhar 30 reais. É um absurdo. Os taxistas escolhem para onde vão agora."

Ora, e se fosse você o taxista? Passaria três horas dentro de um carro num trânsito maluco para ganhar 30 reais? Então porque ele tem que passar? Foi o que pensei na hora.

Eu poderia ter cedido o lugar ao rapazinho de quatro anos que fazia manha no Ministério. Mas eu certamente estaria contribuindo para mal educar um futuro adulto que acha que o mundo tem que atender as vontades dele a qualquer hora.