Ney Matogrosso é uma tapa na
covardia, um desafio ao status quo, um frescor no meio de tanta caretice que
povoa o mundo. Isso quem acompanha Ney sabe, mas fica mais claro ainda em “Olho
Nu”. A transgressão de Ney não tinha esquema, nunca teve, como ele mesmo disse
aos 70, depois de ter sonhado com um. Quem não sonha? Um esquema para
transgredir, ir além, fugir do trivial, da banalidade e da repetição triste que
vivemos todos os dias.
Ney não teve o esquema, mas
transgrediu ainda assim. Fez sua música, sua arte, criou personagens, defendeu
a sua liberdade – a sexual, a de ser artista e a de cantar o que queria independente
se o que cantava ofendia alguém.
Olho Nu não é animal como “Raul –
O início, o fim e o meio”. Não porque a
genialidade de Ney seja menor que a de Raul; nem que a intensidade do baiano
fosse superior à do sul-mato-grossense. O filme da vida de Raulzito tem mais
emoção, talvez porque ele já esteja morto e não pode dar pitaco na película. Ney
protagoniza a sua própria biografia. Por isso sua história nos parece mais
suave, mais branda, menos rock’n roll que a de Raulzito.
Olhando além das duas narrativas –
que são muito distintas – um ponto em comum é a força e a vontade de ir além do
que nos é proposto pelo status quo. Há riscos. Sempre há. Raulzito se foi nessa,
mas deixou sua obra que ainda é descoberta pelas gerações quase um quarto de
século após sua partida. Ney está aí, como ele mesmo disse, escapou da leva de
amigos que se foram nos anos 80 com a proliferação do vírus HIV, que ele
suspeita ter sido criado pelo sistema como controle social.
Segundo ele, não teve esquema algum. Permanece aí, sendo motivo de inspiração. Organizado dentro do sistema, gravando discos e sendo divulgado, como tem que ser para que o trabalho funcione, mas sem deixar de criticar o que não concorda, gostando a banda (do governo ou quem mais estiver pela frente) ou não. Há poucos como ele. Assistir sua trajetória é um tapa na covardia – nossa e do mundo.
Segundo ele, não teve esquema algum. Permanece aí, sendo motivo de inspiração. Organizado dentro do sistema, gravando discos e sendo divulgado, como tem que ser para que o trabalho funcione, mas sem deixar de criticar o que não concorda, gostando a banda (do governo ou quem mais estiver pela frente) ou não. Há poucos como ele. Assistir sua trajetória é um tapa na covardia – nossa e do mundo.