Para Amir Haddad – o criador do Tá na Rua e um dos pioneiros
do teatro de rua como ele é feito atualmente – o lance é lubrificar a periquita.
Ou qualquer nome que você goste de dar para o órgão sexual feminino. Para Freud
talvez o gancho fosse dar um tiro imaginário no superego. Para um grande amigo
meu, o negócio é abrir a gaiolinha que todos nós temos dentro da nossa cabeça.
Eu gosto dessa ideia de destrancar a gaiolinha, é quase como
o objetivo de botar um óleo na frigideira que dá alcunha a este blog. É
inquietante essa gaiola, às vezes sinto que minha criatividade está toda presa
ali como um pássaro que pede pelamordedeus pra sair. E essa angústia se acentuou ao ver Dalí – o de
lá da Catalunha – de perto.
Ao ver a exposição que leva o nome do artista catalão no
CCBB, senti pulsar essa vontade de escancarar a gaiola. Explico: me
tranquilizou o fato de ver que mesmo Dalí – aquele gênio que fez parte do
surrealismo, que conseguiu pintar tão bem a questão do tempo, que se
imortalizou com seus relógios derretidos e nos faz lembrar dele quase 25 anos
depois de sua morte – teve sua gaiola fechada.
Ver obras comuns – e embora dizer que são comuns possa
parecer arrogante de minha parte– é animador. Ver Dalí pintando um caminho
qualquer com árvores ou fazendo retratos do seu pai dá uma esperança de que mesmo
com textos ruins hoje, um dia eu possa extravasar de uma forma mais libertária
e com mais loucura tudo o que me passa pela cabeça.
Em uma parede com capas de revistas nas quais Dalí aparece,
é perceptível esse pulo do gato em sua irreverência e liberdade. Mais novo, é
possível ver um olhar ainda ingênuo e pouco louco. Anos depois fica nítida a
maneira como se jogou na pintura a ponto de executar tão bem o surrealismo.
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