quarta-feira, 8 de julho de 2009

Incêndio no circo



Na última sexta, após pegar um ônibus que mais parecia uma carroça e um trânsito nada agradável, eu cheguei em cima da hora à rodoviária Novo Rio. Minha passagem era para as 23h. Cheguei exatamente nesse horário e não pude embarcar porque não dava tempo de trocar o voucher. O próximo ônibus sairia 00h. Dei umas bisbilhotadas na banca e resolvi comprar a RHBN . Adoro essa revista, fazia algum tempo que não lia. Mas confesso que comprei por conta da capa. “Árabes somos nós – As origens que o Brasil desconhece”. Matéria incrível, vale a pena conferir. Depois escrevo minhas impressões.

Na verdade, resolvi escrever aqui depois de ler outra matéria da revista: Incêndio no circo – a pior tragédia brasileira . Essa história tem muito a ver comigo, meus tios estariam no circo neste dia fatídico. Mas, pasmem!, devido a um sonho meio bruxo da minha avó, eles não foram.

Primeiro, a história do circo.


O Grand Circus Norte-Americano chegou a Niterói em um evento fascinante. Havia uma banda – que mais parecia uma orquestra - em cima de uma carreta. A família Stevanovich, acompanhada de diversas espécies de animais, entrou na cidade com um alto-falante anunciando: “Está chegando o Norte-Americano”. A estrutura do circo era gigantesca - atestando a megalomania do espetáculo - e a lona podia abrigar 2.500 pessoas. Era esse o número dos que estavam presentes na tarde de 17 de dezembro de 1961. Às 15h45, quando se aproximava o fim do último número – o salto tríplice dos trapezistas – teve início o maior incêndio de circo de todos os tempos.

O jornal Tribuna da Imprensa narrou o acontecido: “Em menos de 20 minutos o circo ficou completamente destruído, com um montão de corpos carbonizados na porta principal e outros espalhados pelas cadeiras e debaixo das arquibancadas. Um pouco longe do circo, era este o espetáculo: uns se arrastando quase em frente à estação [de trem] da Leopoldina, outros rasgando suas roupas (em chamas) aos gritos. Os que conseguiram sair sem ferimento gritavam por socorro. Dois minutos depois, chegava o Corpo de Bombeiros, que só teve um trabalho: juntar os mortos nos caminhões dos particulares e manda-los para o necrotério. Praticamente não havia mais fogo”.


No estádio Caio Martins foram enfileirados os corpos carbonizados, cobertos com panos brancos doados pelo povo. Uma vez reconhecidos, eram colocados, ali mesmo, nos caixões para o sepultamento. A necessidade de disponibilizar grande número de esquifes de diferentes tamanhos transformou o campo de futebol “na maior e mais triste carpintaria do mundo”, segundo a revista Fatos e Fotos. O governador Celso Peçanha convocou todos os marceneiros e carpinteiros de Niterói para a fabricação dos caixões em regime de urgência. Chamava atenção o número de urnas para crianças. Durante vários dias, a cidade foi envolvida pelo clima de velórios e enterros. Enquanto ocorriam os sepultamentos, novas covas eram abertas para os próximos. Carros circulavam com fitas pretas de luto.

Não escaparam à imprensa reações individuais de desespero. O caso mais difundido foi o do Profeta Gentileza. Como suas primeiras pregações aconteceram no local do incêndio assim que soube do acidente, até hoje persiste o boato de que ele teria perdido a família na tragédia, versão que não se confirma. O personagem ganharia fama no Rio de Janeiro, pintando suas mensagens em grandes painéis.


Neste link vocês podem ler um pedaço da matéria:
Ou comprem na banca e leiam-na inteira, vale a pena. Há um texto interessante a respeito do acusado do crime.

Agora, a minha história.

Um belo dia, estávamos no carro indo para Petrópolis. Na frente, meu irmão dirigia, eu estava ao seu lado. Fui na frente com a desculpa de “tomar conta do som”. Atrás, minha mãe, minha tia e minha cunhada. De repente coloquei um CD da Marisa Monte, “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor”. Lá na décima música, começa: “Apagaram tudo/ Pintaram tudo de cinza”. Era Gentileza .. Mal começou e minha tia começou: “Você conhece o profeta Gentileza?” E eu, que era nova, fiquei com cara de tacho. Falei: “Ah, gosto dessa música, mas não sei quem é Gentileza.” E minha tia me contou o tal boato de que a família dele pertencia ao Grand Circus Norte-Americano e que ele a tinha perdido no incêndio. Falou dos escritos no viaduto do Caju, que eu já tinha visto, mas não sabia que eram dele. Surpreendentemente, ela me contou que tínhamos algo em comum com aquela história. Meus tios eram crianças e por serem muito levados, ficavam em um internato. Nas férias iam visitar minha avó. Estavam na casa dela, em São Vicente – distrito de Araruama – quando uma tia que morava em São Gonçalo convidou os meninos para irem ao circo, já que sua vizinha levaria os filhos. Este era o grande espetáculo da época. Minha avó não viu nenhum problema e os mandou para a casa de Tia Mariete. Mas, na noite anterior ao espetáculo, quando os meninos já estavam em SG, minha avó teve um sonho que ela considera uma “premonição”. Sonhou que criavam um novo cemitério. Ela estava lá e quando viu um homem ordenando que abrissem várias covas pequenas, perguntou o porquê do acontecimento. Ele respondeu: “Várias criancinhas morreram, dona. Não tem nem caixões suficientes para enterrá-las”.

Minha avó, que já foi espírita e hoje é católica, ficou angustiada com o sonho e fez meu avô ir a São Gonçalo buscar meus tios. Eles voltaram bem chateados, sem entender nada. No dia seguinte, a tragédia. Os filhos da vizinha morreram no incêndio.

Contei essa história porque gosto dela. Através da RHBN fiquei sabendo que o tal boato sobre o Gentileza, que eu acreditava piamente, é um fato sem confirmação. Isso me fez refletir sobre o trabalho do jornalista que é o de apurar os fatos. Tenho lido em muitos sites notícias baseadas em coisas escritas no Twitter, por exemplo. Hoje mesmo li uma matéria sobre besteiras, no site do jornal O Dia, que se baseava no Twitter. E o pior de tudo, um dos perfis citados na matéria é fake.

Além disso, fica o mistério. Não consigo entender essas coisas sobrenaturais. Ou melhor, não consigo entender essas coisas. Se elas são sobrenaturais ou não, não posso afirmar. Já fui kardecista um bom tempo da minha vida. Meu pai estuda a doutrina e me fazia seguir também. Líamos os livros em casa, freqüentávamos palestras e fui até obrigada a fazer “evangelização”. Bonita a tentativa do meu pai de querer me doutrinar. Mas, acabei encontrando outros caminhos. E nestes novos caminhos tenho aprendido muitas coisas. E pretendo descobrir brevemente essa “coincidência/premonição”da minha avó. Mas é assim, talvez haja coisas que não se expliquem mesmo.

Tinha algo pra falar sobre a Elis. Mas isso fica pra depois. O texto ficou gigante.E tá mal editado porque não tá aparecendo a barra de ferramentas no blogspot. #droga

2 comentários:

  1. Eo Pitanguy quem cuidou dessas pessoas, dos queimados. Belo post! Muito bem escrito! Beijo, anna

    ResponderExcluir
  2. Este seu post me leva à infância. Era bem pequena, tinha 4 anos, quando ocorreu esta tragédia do circo. E me lembro, apesar da pouca idade, do pânico que causaram as fotos na revista Manchete...minha mãe, minhas tias todas lamentando a tragédia.Não era menos!! Quem tem filhos pequenos se sente atingido a cada horror que acontece aos filhos dos outros, sinto isto hoje, de forma bem clara..E vc tb me traz a bela memória do Profeta Gentileza, só palavras e...pureza. Devia ter mais Gentilezas no mundo e menos grosseria...enfim.. E que história incrível a deste sonho de sua vó...O que penso de las brujas?? Que las hay, las hay...Um beijo grande!!!

    ResponderExcluir