domingo, 12 de fevereiro de 2012

Para ser lunático

Lunático. Posso me lembrar com exatidão a primeira vez que ouvi essa palavra. Uma prima mais velha falava de um garoto qualquer e se referia a ele como tal. Eu, ainda criança, num misto de curiosidade e ignorância, indaguei na mesma hora: “O que é um lunático?”. Ao passo que ela me respondeu que lunático era uma categoria de malucos. “Ah, são aqueles que vivem no seu mundinho. São meio esquisitos. Vivem no mundo da lua”.

Eu fiz um “Ah!”, com uma cara de satisfação por ter aprendido uma palavra nova. Aceitei a explicação sem maiores detalhes. Mas o fato é que eu não sabia o quanto aquela palavrinha faria parte da minha vida.

Sempre tive uma fixação incomum pela lua. Seus formatos, sua luminosidade... Os dias em que fica encoberta pelas nuvens, parecendo fosca e sufocada por elas, me chamam ainda mais a atenção. E quando é lua cheia algo acontece no meu peito. É como Caetano na Ipiranga com a São João. Para os crentes na astrologia, isso tem explicação. A lua rege o meu signo, que é de água, carregando ainda mais na emoção.

A expressão “de lua”, que se refere a quem muda de humor como mudam as fases da lua, também se aplica neste caso. Parece uma avalanche sentimental a cada crescer e decrescer. Deve ser a crença nesses “mitos” que faz com que a coisa de fato aconteça.

Certo dia ouvi uma fulana dizer: “Ah, canceriana? Cancerianos são lunáticos." Disse isso um tom sério. Um amigo, para me sacanear, emendou: “Ô, e como são...” Ela, séria, argumentou que sim, éramos lunáticos, porque éramos regidos pela lua. Eu ri internamente, como se toda a minha cadeia de pensamentos fizesse sentido. Ser de lua, lunático, mudar como as fases da lua. Voltei no tempo e lembrei da definição de minha prima: me enquadrei na categoria estabelecida por ela. Sem nenhuma necessidade, é verdade. Enquadramentos são tão medíocres quanto a própria existência por si só. Mas embalada pelo aval de Cazuza – que suplica piedade aos que não mudam quando é lua cheia, achei conveniente me enquadrar.

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