sexta-feira, 23 de maio de 2014

(Des)esperar



Ela começa assim, lentamente, como um mar num dia calmo. As ondas não estão agitadas, mas estão ali, mostrando que existem. Depois parece que um vendaval – uma rajada de 80km/h –chega e faz o veleiro chacoalhar, de um lado pro outro, assustando o marujo. É assim a minha inquietação, aquela que vem clamando por mudança.
Meu mar é constante e calmo sempre por tempo determinado. Ela andava assim lá por outubro/novembro, eis que as ondas ficaram grandes, depois enormes – como as amadas pelos surfistas – até que se tornaram gigantescas, uma espécie de um tsunami. E é sempre assim, quando cresce essa minha inquietude, ela é capaz de destruir uma cidade inteira. E parece que eu tenho que mudar tudo da noite para o dia, reconfigurar, ter uma novidade grande – que não cabe em raspar a cabeça e pedir demissão e ir embora para outra cidade.
Não é a primeira vez que esse tsunami desagua de mim, que sai desse mar há pouco tranquilo e agora revolto. Talvez a diferença seja a expectativa. Todo aquele idealismo de que a vida vai ser melhor, que a de lá será melhor e que a daqui não presta, tudo isso foi para o ralo.
É importante mudar quando se está infeliz e as insatisfações tomam conta. Melhor ainda é poder mudar quando se está feliz, quando a vida lhe parece boa, mas não está sendo o bastante.  Não há em mim tristeza, nem melancolia – aquela minha velha conhecida que vez em quando bate a porta e é impossível não recebê-la. Há uma sede de novidade, de expandir o olhar, de colonizar outra área, de partir para uma expedição adiante. Mas sem um olhar de que aqui é ruim. Lá terá terráqueos, tais quais os daqui. Lá terá humanos, tais quais os daqui. Lá terá brasileiros, tais quais os daqui. E também gostos e desgostos, como há por aqui. Gente boa e gente mala, idem. Lugares bonitos e outros nem tanto. Mas haverá, sobretudo, uma possibilidade infinita de se ver coisas e pessoas com outros olhos. Uma nova chance, apenas de ver, não de esperar. (Des)esperar para não desesperar.

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