quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Solução de vida

Fez um Tratado de Tordesilhas quando poderia usar três palavras: eu te amo.
Fez um tratado mental, virtual, sexual, lexical, quando queria apenas dizer.
Fez da sua vida um tratado - mental, sexual, lexical... Estacionário.
Fazia-se tratados de todo tipo. Não só o de Tordesilhas. Conseguia prolongá-los até transformá-los em relatórios da ONU.
Eram tratados de si para si. Diálogos-monólogos. Um papo com o espelho, só que sem reflexo. Só reflexão.
Era assim.
Fez tratados e relatórios - mentais, virtuais, sexuais, porém, pontualmente lexicais - quando o que queria era expressar o amor pela palavra.
Fazia um silêncio supersônico - similar a rajadas violentas, sonoras e inivisíveis - quando o que queria era dizer "não quero mais".
A palavra era sua maior paixão. E como todas as maiores de sua vida, platônica. Descobriu que não sabia amar.
E era o paradoxo de não conseguir amar o que mais amava que lhe afligia. Entendeu parte de si quando fez esta conexão.
Foi aí que, no auge de sua juvetude, quis ir pelos ares. Tanto fazia se da Pedra da Gávea, do Dois Irmãos ou de um apartamento na Glória com vista pro Aterro. Faltou coragem.
Covardia corroborada pelos momentos de ilusão com a vida. Fato que a deixava colocar Solução de Vida, do Paulinho da Viola, por longos períodos no mute.
Sabia que o "Emplastro Brás Cubas" jamais seria fabricado, mas, tola, via na piada uma forma de suportar mais um dia.
Pensou ser feliz em alguns momentos - aqueles em que interpretava o bobo da corte. Ou aqueles em que suas vísceras pareciam um lugar-comum diante dos ouvidos de alguém que também vivesse a sua incessante angústia.
Continuou vivendo.

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