domingo, 29 de janeiro de 2012

Que o mel é doce, é coisa que me nego a afirmar...

Se me perguntassem o que Denorex, Raul Seixas e René Magritte têm em comum eu acharia que era alguma piada. Mas há mais proximidade entre o xampu - que fez sucesso com o comercial "Parece,mas não é", o cantor baiano e o pintor francês do que crê a nossa ignorância.

Em Faça, fuce, force - Raulzito afirma uma negativa brilhante: "Que o mel é doce é coisa que me nego a afirmar, mas que parece doce, isso eu afirmo plenamente." Tanto essa frase de Raul,como o famoso quadro de Magritte (Ceci n'est pas une pipe - Isso não é um cachimbo) tratam da mesma coisa.

O parece, mas não é - simplificado pela sacada publicitária - define tudo. No caso do quadro, me parece que foi um protesto da interpretação da arte ipsis litteris. Como quem diz: não, isso não é um cachimbo. Isso é uma pintura. Isso está além da representação de um cachimbo. Além de um ícone. Há nuances aí.

Só podemos afirmar mesmo o parecer - estar aparente - de cada coisa. O ser não existe. Apenas nuances do estar. Quantas vezes se deparou com uma foto sua que exibia um traço ou nuance até então desconhecidos para você?

Nunca foi provocado por uma estranheza uma vez sequer ao se olhar no espelho por um ângulo diferente?

É o grande imaginário que criamos de nós mesmos e do mundo o rsponsável por nos impedir de ver além. Quando há uma simples quebra de simetria, enxergamos a outra faceta. Além da representação da nossa própria imagem, como a do cachimbo proposta por Magritte. Ou da palavra, que define como doce o que tem açúcar. Ou o nosso paladar, que crê que o mel é doce - porque assim nos foi dito.

Devaneios de um domingo chuvoso.

Um comentário:

  1. Ótima reflexão. Tenho certeza que agora passarei a a olhar as coisas com um pouco mais de cuidado.

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