quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Sobre BBB, Michel Teló, cultura de massa e afins

Há nas redes sociais, sobretudo no facebook, um burburinho que de tempos em tempos vem à tona: gostar ou não gostar de produtos da cultura de massa e se manifestar ou não sobre eles.

Depois de ler diversos tipos de reclamações a respeito do gosto musical e cultural do brasileiro, principalmente após este texto publicado no site da Carta Capital, constatei o seguinte: para variar, as pessoas continuam sendo categorizadas e rotuladas como produtos em seções de supermercado.

De acordo com Matheus Pichonelli, quem não gosta de BBB categoricamente gosta de vestir retrô, vai ao cinema Arteplex e tem vergonha de dizer que gosta de comer no Mc Donald's. Não contente, essa mesma pessoa esfrega os erros gramaticais dos outros
na cara da sociedade em seus posts facebookísticos.

Pois bem. Aí é que está o erro. É como esquerda e direita. O popular e o erudito. Todas as coisas com dois lados, num maniqueísmo novelesco, como vilão e mocinho. Há na cabeça dos escritores uma falta de coabitação entre as coisas, que chega dar dó. E essa criação de discursos antagônicos não produzem nada.

Acontece é que alguém que não gosta de BBB, pode sim ir ao MC Donald's e achar retrô cafona. Ou não. Essa mesma pessoa pode gostar de vestir retrô e, simultaneamente, assistir BBB fervorosamente e ser maníaca por Chedar Mc Melt. Há nas pessoas um
cruzamento de possibilidades, como aqueles das matrizes que estudávamos no colégio.

Mas parece que taxar o clichê anti-BBB ou "batedores de Michel Teló" é mais fácil. Difícil é ouvir porquê não se assiste BBB. O que me indigna de fato não é gostar ou não de BBB, ou curtir ou não Michel Teló. O inconsciente tem espaço para tanta coisa, que é simples gozar e se divertir com qualquer bobagem. Qualquer um é capaz de rir com BBB. Qualquer um que se deixe levar pelos versos de Michel Teló pode encarnar o personagem e fazer aquela dancinha. A questão é optar por isso.

Eu posso sim dançar Michel Teló e não querer assistir BBB por achar que assistir um zoológico humano não é tão divertido. Se eu me sentar em frete a TV por uma semana e acompanhar o programa, é possível que eu queira vê-lo até o fim.

Mas "pera lá", eu não posso ter o direito de querer não ver? Posso ter o direito de querer não ver, de não querer comentar e poder falar mal do programa? Não importa a mim se A ou B assistem e se gostam. Se gostam, bom para eles. O que não existe é querer massificar o pensamento individual e decretar um modelo antagonista ao que vigora.

Pois bem, se a ordem é o BBB, a ideia é o anti-BBB. E abarcado com ele vem uma série de gostos agregados que o transformam num produto antagônico.

A cultura pode ser de massa. Podem existir milhões e milhões de brasileiros acompanhando paredões e afins. O ser humano é que não pode ser massificado. Categorizado. Estereotipado em seres que gostam de coxinha com guaraná e os que gostam de patê de foie gras. Há pessoas que comem coxinha e foie gras tranquilamente. Que andam de ônibus e limousine, num mesmo dia, sem torcer o nariz.

Só que parece mais fácil categorizá-las. É mais simples para decidir quem você ama ou odeia. Quem você fala mal ou aceita. Quem se parece com você ou quem é diferente. O mal do humano é a dificuldade de parar e olhar para o ato isolado. Ele tem sempre que colocar tudo num pacote e reforçar um discurso. Assim ele fica mais forte.

2 comentários:

  1. Disse tudo pirua. Eu particularmente nao curto muito, mas tambem me pego assistindo a uns paredoes em terças chatas.
    Viva a variação, a mistura que as pessoas fazem e que existem dentre delas, isso que é o barato!

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  2. Parabéns querida, gostei do texto. Ainda mais depois do papo que tivemos presencialmente.

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