terça-feira, 26 de junho de 2012

Psicofobia

O título “Psicofobia, não” na coluna Gente Boa, de Joaquim Ferreira dos Santos, em o Globo do dia 26 de junho me chamou a atenção. Psicofobia? Eu me perguntei. Logo vi que se tratava de uma tentativa de um membro da Associação Brasileira de Psiquiatria em criminalizar o “preconceito contra os portadores de transtornos mentais como autismo e Síndrome de Down”. Era o que dizia a nota. Pegando carona na criminalização da homofobia, Antonio Geraldo da Silva defende que a psicofobia também merece a mesma atenção, visto que 46 milhões de brasileiros (25% da população) têm algum transtorno mental.

Fiquei pensando cá com meus botões. Ora, será que para toda diferença que existir teremos que criar uma punição para vivermos em sociedade? Porque é sempre assim. Existe uma “diferença”, um movimento de pessoas que se sente ameaçado por ela (homofóbicos e os, recém-chegados ao nosso conhecimento, psicofóbicos, por exemplo), depois o movimento a favor dos diferentes em questão (como se inicia agora) e depois a criminalização que pune quem teoricamente desrespeita a diferença.

Foi assim com os negros que tiveram que ser chamados de afrodescendentes, com os gays (formalmente chamados de homossexuais) e agora com os  loucos (também com esse rótulo politicamente correto de portador de transtorno mental).

Existe aí uma dualidade: primeiro a clara noção de que somos a priori hostis com o que não nos é espelho, o diferente. E aí fica óbvio o narcisismo humano. Em seguida, vem a punição como forma de convergir para a tolerância. É verdade que o tratamento aos negros mudou muito de uns tempos pra cá. O presidente do país mais rico do mundo é Barack Obama e ele está lá muito bem, obrigado. Mas isso não quer dizer que a diferença de cor ainda traga problemas, nem que o preconceito tenha sido limado. O mesmo acontece com os gays que ganharam direitos e têm mais flexibilidade de ir e vir sem se esconder. No entanto, também não deixam de levar surra ou ouvir piadas por aí. Com os loucos não há de ser diferente.

É nítido como somos selvagens e precisamos de leis e punições para o mundo caminhar podendo conversar melhor. Tenho a impressão de que, por mais que esses atos de criminalização pareçam positivos por corroborar com a tolerância, não sejam suficientes. A diferença sempre vai existir e o instinto violento também. Acho sempre tão patética a tentativa de adestração das pessoas. Mas talvez seja mesmo necessária...

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