quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Lívia tinha razão

Lá pelos idos do fim de maio, início de junho, eu estava um pouco mal-humorada com a chegada da Copa do Mundo ao país.

Além de não ser tão inteirada dos assuntos futebolísticos, nem de me empolgar com as seleções em campo, me chateava o fato de ter que trabalhar diretamente com isso.

Lamentei em voz alta e a amiga Lívia Torres, então colega de trabalho e amante do esporte, me alertou dizendo algo do tipo:

- Nas eleições será muito pior. A Copa pelo menos é divertida, a cidade fica animada.
Eu rebati que era legal, que as eleições eram o meu futebol, porque o debate sobre o país esquentava e você poderia contar com discussões interessantes.

Pois bem: durante a Copa, driblei meu mau humor; consegui ver de longe o clima de festa que o mundial instaurou no Rio, já que o cansaço com a labuta não me deixou aproveitar tanto.
Mas foi possível sentir o clima de comunhão entre as pessoas, engajadas pelas suas seleções ou - ainda mais - pela paquera intermundial que tomou conta da Praia de Copacabana.

Já nas eleições presidenciais, o debate mesmo - sobretudo no segundo turno - foi pro beleléu.
Para além de uma luta de classes, tivemos que lidar com uma profusão de notícias falsas replicadas no Facebook, guerras toscas com palavras de ordem como ForaPtralhas e ódio cada vez mais pululante, de ofensas virtuais à porrada com bandeiras hoje no Centro de SP.

Sabemos dos problemas do governo PT - embora eu ache que a linha de pensamento seja a melhor entre as duas oferecidas atualmente para o país e, por isso, #VotoDilma13.

Podemos, criticamente, cobrar uma postura mais à esquerda do partido caso ele vença o pleito.

Tenho - particularmente- um certo asco à figura do Aécio Neves - não só como homem político, mas como homem apenas - e me falta empatia com a proposta de governo excludente do PSDB.

Minhas convicções não são e nunca serão inabaláveis porque acho que temos de estar sempre atentos e de ouvidos abertos ao que mundo está dizendo/gritando.

Por isso tento ouvir o que cada um tem a dizer e, se for possível e a outra pessoa estiver disponível, argumentar.

Mas o que tenho visto aqui e no mundo real é pouca disponibilidade para ouvir, discursos prontos e "inabaláveis".

A minha única alegria nessa eleição foi ver que uma criatura inteligente e com propostas soube amarrar suas ideias e apresentá-las de maneira brilhante nos debates.

Tarcísio Motta surpreendeu - quebrou o tabu de muitas pessoas que não votavam no PSOL fossem quais fossem os seus preconceitos - e atingiu quase 10% de votação.

Fora isso, tudo muito pouco interessante. Repetições de papagaio, gritos sem propósito, palavras de ordem impensadas.

É, Lívia Torres, dou o braço a torcer e digo que você tinha razão.

Mesmo com aquele amargo 7x1 de junho e os alemães sapateando na nossa cara com aqueles baldes de cerveja no Leme, a Copa foi mais interessante.

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