sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Meu analfabetismo científico


Eu nunca fui uma boa aluna em Ciências. Tinha notas regulares e achava muito chato saber todos aqueles nomes de doenças. Na quinta série, me lembro bem do professor César desenhando no quadro negro uma célula gigantesca ilustrada por várias cores de giz. A intenção dele era nos apresentar os lisossomos, ribossomos e todas as funções dos componentes celulares. O entusiasmo dele ao apresentar a célula, num primeiro momento, foi contagiante. Mas depois, tenho que confessar, foi frustrante. Passei o ensino fundamental inteiro sem entender xongas sobre células. Tinha decorado cada função daqueles desenhinhos para escrever nas provas. E não tinha coisa mais entediante que passar o fim de semana “estudando” aquelas coisas. Era tudo muito abstrato, eu não entendia absolutamente como funcionava aquilo dentro do corpo humano.
Pois bem, segui nas decorebas. A biologia do ensino médio foi um pouco mais interessante. Tive um professor mais sensível às dificuldades de compreensão da turma. Ele era mais sintético e ao mesmo tempo mais explicativo. Traduzia aquela linguagem abstrata. Mas, na minha cabeça, já era tarde pra gostar daquilo. Eu já sabia o que queria fazer da vida e aquela era só uma etapa que eu tinha que cumprir. Foi uma dessas besteiras que fazemos quando tomados de uma certeza dura e inflexível.
Agora me vejo muito próxima desse mundo da ciência e seus mistérios, suas descobertas. E como boa parte das pessoas em nosso país, me sinto portadora de um analfabetismo cientifico. Outro dia, conversando com uma conhecida do francês, descobri que ela trabalha com polímeros. Perguntei a ela como tinha sido despertada a querer trabalhar com algo tão específico como polímeros. Ela me contou que fez um trabalho para a escola sobre espuma e se encantou pelos polímeros. Iniciamos um bate-papo sobre a falta de incentivo às pesquisas nas escolas.
Depois, encontrei uma outra amiga, que também fez francês comigo e acabou um mestrado em Ecologia agora. Ela me disse o quão sufocante é o mundo entre os biólogos quando se trata de conversar. Os nichos são muito fechados, um exemplo é a própria ecologia. Eles ficam limitados a um universo ecólogo. Há uma concentração maciça no micro, segundo ela.
Voltando ao papo referente ao incentivo nas escolas no que diz respeito à ciência, temos que admitir: ela tem ganhado mais espaço na mídia. A criação de eventos como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, além do crescente numero de prêmios oferecidos aos novos cientistas são políticas públicas importantes.
Mas é tudo muito irrisório ainda. Há muito que se desmistificar no ramo da ciência de modo que atraia futuros pesquisadores.
Por isso eu resolvi me alfabetizar em ciência. Em breve trarei uma reportagem sobre as tais células que tanto prometeram me encantar e acabaram por me frustrar. Prometo trazê-las de modo bem claro.

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