Satisfeitos com os feitos
são os cegos perfeitos
que não vêem os defeitos
que iniciam nos peitos
Oh, santa satisfação
a falsidade do mundo
encontra-se alojada
na sua proclamação
Quem poderá negar-se
satisfeito reparando
em seu leito, perfumado
lençol em macio colchão?
É que quando caminha
pela rua de noite
culpa-se por ver outro
dormindo num papelão
Precisa provar para a dor
que sente, que basta estar vivo
que basta ser gente
e estar num abrigo
Quanto tempo sustentará
essa triste aceitação
de que basta ter na mesa
manteiga, queijo e pão?
Quantos dias durarão
a dura constatação
de que se constata a ação
por faltar uma ação?
Quantos dias satisfeitos
aquecerão seus peitos
apaziguando a dor de não
poder ver os não-feitos?
Quantas necessidades
serão ignoradas a fim de
afirmar pra si que as
cotas já estão saturadas?
Insatisfeitos com os feitos
são os sãos imperfeitos
que morrem pensando
“Que belos meus defeitos”
Nenhum comentário:
Postar um comentário