quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Os feitos insatisfeitos

Satisfeitos com os feitos
são os cegos perfeitos
que não vêem os defeitos
que iniciam nos peitos

Oh, santa satisfação
a falsidade do mundo
encontra-se alojada
na sua proclamação

Quem poderá negar-se
satisfeito reparando
em seu leito, perfumado
lençol em macio colchão?

É que quando caminha
pela rua de noite
culpa-se por ver outro
dormindo num papelão

Precisa provar para a dor
que sente, que basta estar vivo
que basta ser gente
e estar num abrigo

Quanto tempo sustentará
essa triste aceitação
de que basta ter na mesa
manteiga, queijo e pão?

Quantos dias durarão
a dura constatação
de que se constata a ação
por faltar uma ação?

Quantos dias satisfeitos
aquecerão seus peitos
apaziguando a dor de não
poder ver os não-feitos?

Quantas necessidades
serão ignoradas a fim de
afirmar pra si que as
cotas já estão saturadas?

Insatisfeitos com os feitos
são os sãos imperfeitos
que morrem pensando
“Que belos meus defeitos”

Nenhum comentário:

Postar um comentário