segunda-feira, 23 de julho de 2012

(re)apaixonar-se

Acredito no fenômeno da re(paixão). Ele funciona mais ou menos assim: você ouve um disco uma vez, se apaixona por ele, ouve, ouve, ouve até furar. Anos depois você o reencontra. E se reapaixona. Pode ser assim com as pessoas. Ou com os livros. Ou até com uma outra faceta do objeto em questão. Há meses andava em minha cabeceira seu Drummond com sua "Poesia Errante". De dias em dias eu abria, lia um de seus poemas e sublinhava algo que me soasse bom naquele momento específico. Embaixo dele estava "Dossiê Drummond", do Geneton Moraes Neto, uma reportagem biográfica. Desde dezembro ele estava ali acumulando poeira, até que resolvi pegar. Eis que ocorreu o fenômeno da (re)paixão.
E cá estou vendo seu Drummond por outro ângulo. O daquele que responde.

Geneton pergunta: Qual é o grande medo de Carlos Drummond de Andrade aos oitenta e cinco anos?

Ele responde: Nenhum. Sinceramente, sou uma pessoa terrivelmente corajosa, porque não espero nada de coisa nenhuma. Não espero decepção nenhuma. O medo que tenho é de levar uma queda, me machucar, quebrar a cabeça, coisas assim, porque, na idade em que estou, a primeira coisa que acontece numa queda é a fratura do fêmur. Isso eu receio.

Geneton coloca no meio da resposta (como faz em quase todas as perguntas) um trecho de Drummond:

(...)
o medo dos grandes sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amareladas e medrosas.
("Congresso internacional do medo" - trecho)

E ele continua:

Mas medo, propriamente, não tenho, porque não tenho religião. Não tenho partido político. Vivo em paz com meu critério moral e minha consciência.

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