quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Dia de Fúria

Que atire a primeira pedra quem nunca teve um Dia de Fúria. Assim, com maiúsculas, por que quando acontecem são uma espécie de entidade. São nesses dias em que você é colocado à prova, sabe-se lá por quem - pelo universo ou pela sociedade fazendo pegadinha - seu humor e capacidade de viver coletivamente são testados.

Recentemente vivi alguns desses. Faz parte da adaptação em uma cidade enorme cujas longas distâncias aliadas ao desconhecimento do espaço dá uma desesperada. Principalmente quando você precisa cumprir horários. Justamente por estar vivendo essa etapa agora é que me identifiquei tanto com Relatos Selvagens, em cartaz nos cinemas.

Sobretudo com o Dia de Fúria do personagem de Ricardo Darín, que tendo que atender tantas demandas de trabalho e família é pego pela indústria de multas da prefeitura, tem o carro rebocado e se vê diante de uma burocracia sem fim para conseguir buscar o automóvel. Tudo isso no aniversário de sua filha, que aguarda o bolo que ele ficou de levar para cantar parabéns. O que acontece depois? Vale a pena conferir.

O lance é que ele acaba preso por perder o autocontrole em uma situação que poderia ser banal caso não tivesse acontecido em um dia de fúria e a paciência do personagem em questão já tinha ultrapassado o limite.

E é justamente nessas situações-limite que nossos piores sentimentos vêm à tona. Explico: eu muitas vezes já morri de vontade de andar com pedrinhas no bolso para atirar nos ônibus que ignoram o meu sinal. É evidente que eu não vou fazer isso porque eu não quero machucar ninguém e, muito menos, ser presa. Mas não posso mentir, a vontade vem e vem grande.

É uma linha muito tênue a de manter o controle e aguentar o tranco e surtar e virar o Bombita, personagem de Darín. Uma luta diária eu diria. Ainda bem que existe música e a gente liga o aplicativo no telefone e a fúria passa.

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