quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Tudo que não invento é falso

"A poesia está guardada nas palavras – é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.

Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios.". Manoel de Barros

O grande poeta das miudezas e pequenas coisas partiu hoje, mas deixou muitas insignificâncias para tornarem o nosso viver mais rico e interessante. Manoel falou desde a incompletude do homem até sobre formigas, árvores e miudezas em geral.

"Só dez por cento é mentira", um dos melhores documentários que já assisti sobre alguém que ainda estivesse vivo, é de uma delicadeza sem fim. Mostra Manoel na sua função de operário das palavras, ali, na simplicidade de quem busca apenas o prazer em transformar o mundo em poesia. Exercitando diariamente o contato com a palavra, como em qualquer trabalho burocrático. A diferença entre as duas "burocracias" é que Manoel só se importava com aquilo que é considerado insignificante. Aí está o grande barato de sua poesia.

"A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas"

Esse é de uma lindeza sem fim. Não podemos lamentar. Foram 97 anos de vida, mais de sete décadas de dedicação à palavra. Deixou para gente uma obra vasta, um alento para cada dia.

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