terça-feira, 3 de abril de 2012

O dia em que encontrei Manoel Carlos

Nem só de encontros fictícios vive este blog. Se a imaginação teve de ser útil para que meu encontro com o velho Freud fosse possível, prescindi dela para dar vida ao rendez-vous com aquele que é o mito das novelas da Globo. Embora o "cenário" da minha vida atual seja ironicamente representado pelo Leblon e eu tenha uma chefe (não a direta, mas a superior) chamada Helena, foi na livraria Travessa de Ipanema que o vi.

Estava de costas comentando qualquer bobagem com uma amiga e ela espontaneamente falou: "Ih, olha o cara que você tem que entregar o seu currículo". Olhei para trás e ele nos cumprimentava, sem graça. Não mais do que eu, evidentemente.

Ele parecia em casa, olhando os livros. Mesmo andando com dificuldade, apoiado por uma bengala, ele subiu as escadas da livraria. Imaginei que estivesse tomando um café e lendo alguma coisa no andar de cima. É o que a gente (eu, pelo menos eu) imagina de um escritor que tem suas tardes "livres".
Enrolei um pouco e subi para ver o que ele fazia. Na verdade conversava com um dos vendedores. Acho mesmo é que tinha encomendado algum livro que não tinha chegado. Depois desceu as escadas lentamente e cumprimentou um outro vendedor que perguntou:
"E o garoto?"
"Tá em Nova York, estudando"
Depois foi deixando a loja enquanto eu e minha amiga fingíamos olhar as lombadas de alguns livros, esperando ele sair. Saímos também, observando ele falar no celular. Seu motorista chegou, ele entrou numa Land Rover e seguiu sem sabermos para onde.
Assim foi nosso rápido e fugaz encontro. Gosto dele. Não vejo televisão quase nunca, tampouco novelas. Acho até que a última que acompanhei era de sua autoria. Embora sempre com o mesmo estilo e histórias parecidas que têm ingredientes repetitivos (pode-se ler traços obsessivos ou estilo - a gosto) como cenário e nomes de personagens, gosto do tom sofisticado que dá aos seus diálogos (pensando no formato televisivo) e a ficção por ficção.

Além disso, por mais que o pano de fundo seja chique, com pessoas ricas e uma vida surreal para a maioria dos brasileiros, ele sempre trata de temas universais, passíveis de acontecer com qualquer um de nós, meros mortais.

Fiquei contente com o encontro.

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