domingo, 8 de abril de 2012

Unheimlich

Aproximando-se o prazo de entrega do meu trabalho de monografia, tomei uma decisão: afastar-me por um tempo do facebook. Ver as minhas horas de estudo serem consumidas por aquela ferramenta me criou um pânico e me fez tomar a atitude.
Nesses dias sem utilizá-lo pude perceber algumas coisas. A internet, em sua criação, tinha uma ideia de “não-espaço e não-tempo”. Temos um mundo virtual, onde não interessa se alguém está no Japão ou no Brasil e junto a isso, seus fuso-horários. Tudo isso fruto de como nomeou meu querido Cezar Carazza, inconsciente capitalista – que tudo quer e tudo pode. Pois bem. Dá-se o fato que as relações econômicas do mundo globalizado ficaram mais fáceis, vide as teleconferências realizadas entre os dois países mencionados (ou entre outros quaisquer) pelas grandes empresas.
Mas o curioso é que a vida “real”, por assim dizer, invadiu essa coisa andrógena chamada virtual. Essa tecnologia, que a todo momento nos favorece e isso não podemos descartar, tornou-se algo curioso. A ideia de não espaço e não tempo projetada para a internet foi quebrada. No facebook parece que esta precisão de espaço e tempo precisa ser reafirmada pelo humano. Seria um retrocesso? Nós, que, nos acostumávamos há uma década com a ideia dos bate-papos e chats com estranhos e explorávamos aí o desconhecido, agora “retrocedemos” a nos limitar ao nosso ciclo de “amigos” e mesmo sem estar com eles, sabemos onde estão ou onde estiveram e a que horas, através de marcações, fotos, check-ins.
Seria essa uma falta de habilidade da nossa espécie em lidar com o estranho? De não ver no novo uma possibilidade de conhecimento? Vejo nessa cultura do “espetáculo”, e agora não mais o espetáculo de Debord. Mas o espetáculo onde todos somos atores e expectadores da mesma novela chamada facebook. Reforçamos ali a nossa organização de tempo e espaço, em que precisamos cada lugar e cada hora.
Há aí uma grande mudança nas relações, reforçando um falso controle de umas sobre as outras. É evidente que há aí, um recorte em determinada parte da sociedade, já que nem todas as pessoas do mundo são usuárias do facebook. Ou nem todos os usuários do da ferramenta são “hard users”. O fato é que podemos observar detalhes da nossa espécie como o despreparo para lidar com o desconhecido, com o que não tem data/hora/lugar. Isso me lembra aquele filme “O curioso caso de Benjamin Button”, onde o personagem principal, interpretado por Brad Pitt, vive a ordem inversa do tempo cronológico. Ele nasce velho e vai se tornando jovem ao longo do tempo. Tem uma cena simbólica onde um relógio passa a girar ao contrário. Lembro que quando assisti a este filme, vi acompanhada de alguém que me disse: “Acho que esse relógio representa o século vinte”. Na sua explicação, se referia às questões tecnológicas, que davam um frescor ao mundo transformando-o o seu “espírito” mais jovial.
Talvez seja um pouco isso e acho boa essa colocação. Mas ao mesmo tempo em que toda a tecnologia – que vem sempre para melhorar, mas o seu uso é o que o determina (sem maniqueísmo de bom ou ruim) – traz essa sensação de novidade e suavidade, transformando o peso de um livro grosso e empoeirado em um texto virtual lido num tablet, traz também o reforço das nossas imperfeições humanas , como a necessidade do controle cronológico, do tempo e das pessoas.

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